quarta-feira, 2 de julho de 2014

Forma de felicidade. O corpo no pós parto.

(Foto de Jade Beall, retirada da internet).


Tempos atrás, uma amiga me enviou "inbox", pelo Facebook, o link de uma matéria que falava sobre certa fotógrafa que lançou um projeto lindo, onde o grande protagonista da sua exposição era o corpo da mulher pós parto. Achei essa iniciativa incrível, fui pesquisar mais sobre ela e virei fã de Jade Beall. Suas fotos me fizeram refletir sobre um dilema pessoal que venho vivendo e me fez enxergar tudo com outros olhos. 
Hoje, então, resolvi escrever um pouco sobre isso. Assunto que, até o momento, eu também não me atrevia a falar por ainda me sentir desconfortável com as mudanças do meu corpo. 
Uma das maiores dificuldades que tenho e, acredito eu, a maioria das mulheres adquire depois de ter seus filhos, é aceitar as mudanças que ocorrem no corpo. Aquela barriga firme, a pele lisa, cintura marcada, bumbum torneado, os seios que antes não necessitavam de sutiã, coisas que facilmente podem deixar de existir após uma gestação, atormentam os pensamentos de muitas mulheres. No lugar das características que eram puro orgulho, nasceram marcas que contam a história da maior transformação da vida de uma mulher: a maternidade. Estou ainda atravessando esta etapa com muito custo. Os quilos a mais, a cicatriz de uma cesárea indesejada, a flacidez abdominal e os seios pesados e grandes, me fizeram ter vergonha da minha aparência e isso me trouxe problemas. Problemas comigo e consequentemente com o meu marido. Dificilmente uso biquínis, calcinhas pequenas, roupas muito decotadas ou sem mangas sem me sentir desconfortável. Isso tudo dificultou a minha relação com o mundo. Deixei de ir à praia, passei a ter vergonha de me trocar na frente do meu marido e de usar os meus vestidos favoritos, com medo de me sentir ridícula. É muito difícil e, às vezes, doloroso, aceitar essas mudanças de forma madura e positiva. Facilmente nos sentimos pra baixo, sufocadas e diminuídas pela ditadura da beleza que se criou na sociedade como um todo e fez nas mulheres (e também nos homens) tremendas lavagens cerebrais e intestinais em prol do corpo perfeito. Hoje, mais vale uma lipoaspiração na mão do que o "seu homem" voando. 
Tudo é motivo para uma mulher entrar na faca, principalmente se essa já deu à luz seus filhos.
Obviamente existem as exceções. Eu mesma tenho muitas amigas que nem pareciam que tinham acabado de parir. Seus corpos magros e esbeltos já estavam no lugar no instante seguinte em que seus filhotes deram o primeiro suspiro fora de seus úteros. Mas não é para elas que esta postagem foi direcionada, e sim, pra você, que assim como eu, aceita a passos de tartaruga centenária, essa nova roupagem que habita.

Depois de ler mais sobre Jade, sua experiência e seu trabalho, passei a enxergar meus seios menos empinados como a escultura mais linda e perfeita que a vida já projetou. Esse foi o meu primeiro passo. Lembrar diariamente que meu corpo alimenta o ser que mais amo e mais me importo em toda a minha existência, me faz esquecer a falta de padrão estipulado que vejo, quando me olho no espelho, e perceber que sou fonte de amor. O corpo mais arredondado, que agora não veste "P", me mostra as curvas que meu filho desenhou enquanto vivia em mim. Cada novo milímetro foi essencial para manter as condições perfeitas pra ele, e agora, do lado de fora, são esses mesmo milímetros que o aconchegam e aquecem quando o frio, o medo e também os dentes se aproximam.

(Joaquim aos 3 meses, pela primeira
vez na praia. Arquivo pessoal Matrem). 
Procuro ver Deus em mim cada vez que me sinto feia por estar fora de forma. Mas agora eu pergunto: que forma é essa que procuramos ter? Forma de "Gisele"? De Globeleza? De capa da revista "Boa Forma"? Acabei de crer que tenho que parar de achar que bonito é "perder 15 quilos em 1 mês" e entender que cada uma tem o seu tempo, a sua realidade e necessidades. Escolhi viver a maternidade ativamente, em tempo integral, sem babás, sem creches, sem papinhas Nestlé, sem pressa e sem limites. Sendo assim, devo aceitar a forma mais linda que eu poderia ter e deixar de me cobrar uma Juliana que ainda não quero ser, portanto, minhas caras amigas, me aceito assim, na minha melhor forma, a de MÃE.

As marcas que meu corpo apresenta hoje, servem pra me lembrar que eu passei pela fase mais feliz e especial do jogo da vida real e ganhei a pontuação máxima com todas as bonificações no final. O Joaquim é a minha primeira grande conquista. Um menino lindo, saudável, esperto e feliz, que ama se aninhar no meu colo macio e quentinho, sem se importar se ele é feio ou bonito.
Em breve as mudanças se reiniciarão, pois já planejamos o segundo baby, e aí, uma nova forma se fará. E enquanto isso, vou me aceitando, me amando e, às vezes, me odiando...como num ciclo sem fim. Afinal, sou mulher e vivo numa explosão de hormônios.

Essa postagem nada trouxe de científico ou super novo, mas aposto que muitas vão se identificar.
Vez ou outra trarei relatos assim, humanos.

Obrigada por ler.
Namastê.



2 comentários:

  1. Tatiana Prota Salomão3 de julho de 2014 às 20:13

    lindo Ju!! adorei! pode não parecer, mas tb passo por isso e penso exatamente assim! qd vejo minha barriga q nunca volta pro lugar de antes... é a forma de mãe do maior presente q Deus deu, do q realmente importa em minha vida... do que me traz felicidade plena!!!

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  2. Olá Juliana, não nos conhecemos, mas me identifiquei muito com tudo que relatou que está vivendo. Afinal, vivemos em uma sociedade que valoriza mais quem perde quilos pós gravidez, do que quem realmente abre mão um pouco de si para proporcionar a seu filho o maior cuidado possível. Hoje estou como você, mãe em tempo integral e não me arrependo. Apesar de muitas (e muitaaas) vezes ter que escutar que estou acima do meu peso, que preciso me arrumar mais, etc, etc, etc, de pessoas aliás que não dou a menor liberdade, sigo querendo aproveitar todos os instantes a maternidade que Deus nos proporcionou. Quando fico triste não é pelos quilos extras, ou pelo unhas não feitas, ou pelo comentários maldosos e sim, pelo quanto esse mundo encontra-se tão mal de valores, de princípios e de pessoas que saibam reconhecer alguém que realmente assume com todas a lestras o papel de ser MÃE! bjos

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